sábado, 24 de abril de 2010

A vida é uma coisa estranha...

A senhora E. entrou no serviço de cardiologia no dia 30/01/2010 com o diagnóstico Insuficiencia Cardiaca + Insuficiencia Mitral Severa. Com 72 anos, apresentava algumas das consequencias deste tipo de patologias cardíacas: dispneia, hipotensão, vértigo, nauseas...

O estado dela foi-se agravando aos poucos... Um dia estava optima, outro dia muito decaída. Um dia bem disposta com muito humor negro, outro dia apática.
Todos os dias, os filhos a visitavam, ficavam um bom par de horas durante a tarde a ver tv, a jogar cartas, a conversar com a senhora, enfim...

Mas as dispneias tornaram-se muito constantes, principalmente no turno da noite até que por decisão médica e familiar em meados Fevereiro iniciou-se o tratamento com alprazolam e morfina oral para que sentisse mais relaxada e menos ansiosa, como também avisaram que em caso de paro cardiorespiratório não efectuassemos quaisquer medidas de ressurreição.

Em Março, uma das filhas me comentou que se iria casar. A senhora E. estava com períodos de desorientação, principalmente a nível de tempo, com anorexia por a propria comida lhe causar "ahogos"... Quando a filha me contou em que dia se casaria, de imediato comecei a fazer de contas de cabeça para premeditar uma possível morte de sua mãe.

Todos os dias a senhora E. perguntava à filha "é hoje que te casas?"

Pelo facto de esta senhora estar internada tanto tempo no serviço de cardio, a equipa criou uma excelente relação com a senhora E. e com a família que se demonstrava atenciosa com a mãe e bastante compreensiva com o nosso empenho.

Esta manhã encontrei a senhora E. muito sorridente, acompanhada por dois dos seus filhos vestidos a rigor... "é hoje que a minha filha se casa...", me disse ela.

Às 12h30, a filha apareceu na Clínica vestida de noiva, com um pedaço de bolo.
Às 15h25, chamaram-me por mim a avisar que a senhora estava com uma respiração gorgolejante, mal entro no quarto oiço-a a dar o ultimo suspiro.
Às 15h30 coube-me a mim cerrar os olhos e retirar a mascarilha de oxigenio e o cateter EV. A senhora E. faleceu muito tranquilamente, acompanhada por uma familiar, sem sofrimento, enquanto dormia a sua sesta...

terça-feira, 13 de abril de 2010

E é caso para dizer...

PORTUGAL À VISTA!!!


Apesar de ter um forte carinho por Barcelona, sinto que um ano é demasiado tempo aqui...

Aproveitei as férias da Páscoa para ir até Portugal e Galiza para umas quantas entrevistas que sem problema algum posso dizer que me foram arranjadas, com garantias que não são excelentes nem boas... são razoáveis...

Estou prestes a dar outro grande passo na minha vida profissional, pessoal, sentimental e todas as outras palavras terminadas em al...

Que a minha estrelinha da sorte me continue a perseguir...

... e já agora quero também que a minha estrelinha da sorte me ajude a pagar este bichinho lindo...

QUERO-O,
DESEJO-O...

Na garagem lá de casa... ou estacionado em frente ao meu portão na minha rua...

segunda-feira, 12 de abril de 2010

saudades...

Continuo a sentir a tua falta, das nossas discussões quando cometia pequenos deslizes na minha condução, das comédias que víamos juntos na TV, das imensas conversas que tínhamos sobre a minha vida e da forma como eu lidava com ela, conversas sobre política, música, das aventuras que tu tiveste quando eras mais novo...
Deverias morrer bem velhinho, deverias assistir à minha missa de finalistas, acompanhar a minha irmã pela primeira vez à Universidade... Deverias estar a orientar-me das decisões que tomo, decisões tão simples de ir para ali ou para acolá ou até de escolher um carro... Deverias até prontificar-te a ajudar-me a paga-lo...Deverias estar a dar uma palmadinha nas minhas costas quando cometo um erro... até deverias estar aqui para me dizer "eu bem te avisei!".

Deveríamos ter restaurado juntos o teu clássico de estimação, que como dizias, deveria levar-me e a minha irmã no dia dos nossos casamentos... Mas tal como tu, por muito que tentássemos, o velho clássico acabou acabou por sucumbir pouco tempo depois de desapareceres....

Quatro anos, velhote, e apesar do tempo ajudar a curar as feridas, não consegue sara-las por completo...